Um pouco mais de dois dias a base de água, o esforço é quebrado com a típica frase: “A comida está na mesa.” Sem escolhas. Levo a minha boca cada garfada planejando o depois. “Vou tomar banho.” Ligo o chuveiro, fazendo o barulho d’ água abafar o som da minha querida amiga rasgando minha garganta. O terceiro dia da semana chega com a falsa sensação de felicidade consequente do meu controle. Meus olhos se fecham e sou capaz de sentir o prazer de estar a três dias com o estomago vazio. Naquele momento meu vicio é cessado. Coloco a efedrina, os calmantes e antidepressivos na bolsa e me encaminho para meu martírio. A escola. Recebo minha prova e me deparo com minha vergonhosa nota. Procuro entender o que esta sendo escrito na lousa, mas minha falta de concentração não permite. Tudo ao meu redor começa a embaçar, apenas ouço a maliciosa voz da Anna em meus pensamentos “Diferente dos seus pais você é burra. Você nunca dará orgulho a eles.”Vou até o banheiro. A Anna brutamente me vira em direção ao espelho e começa a gritar em minha cabeça. “Nem sua aparência é capaz de compensar sua burrice.” Sento no chão do banheiro, enquanto as lágrimas escorrem como sangue, refletindo o pedido de um fim para minha vida. O controle dos três dias começa a se manifestar através da fraqueza ao tentar me levantar. “Você não vai desmaiar. Você merece sentir dor.” A voz da Anna ecoava por todo banheiro.Apalpei o bolso do meu casaco e senti meu remédio que utilizo para emagrecer. Com as mãos tremulas levo diversos comprimidos de efedrina a boca, engulo a seco.
Limpo meu rosto e ignorando minha sensação de desmaio saio do banheiro. Indiferente a todas as perguntas, a todos os olhares, pego minha mochila e vou para casa. Sou obrigada a almoçar, entretanto minha fraqueza não me permite se quer abrir a porta do banheiro.
Desde criança eu tenho um histórico de vaidade excessiva. Desde criança eu lembro alguns fatos que já apresentava indícios da minha relação estranha não só com a comida, mas principalmente com o espelho. Sempre dei extrema importância para aquela imagem que ali reflete. Porém, nada muito grave. As coisas só começaram a se intensificar em meus 11-12 anos
Perdendo alguns quilinhos. Eu não me achava gorda, mas também não me achava magra. Eu olhava no espelho, sentia necessidade de perder alguns poucos quilos para ficar bonita e quem sabe isso me trazer alguma felicidade. Foi um caminho que eu encontrei. Estipulei fazer uma dieta durante poucos dias, uma semana no máximo. Por uma semana me limitei a comer o mínimo possível, o que não era muito difícil, quando a tristeza que eu sentia, me fazia perder o apetite.
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